OBJETO DE DESEJO, CORPO ABJETO

Recentemente levantou-se a polêmica a respeito de haver gordofobia em meus posts. Voltei a eles e lá estava ela, orgulhosa, melecando meus textos de preconceito que eu nem sabia que tinha. Ainda que inconscientemente, estavam ali de vingança pelo que os lixos faziam comigo, oq mostra quão complexo é o jogo das relações de poder, de privilégio… travesti gordofóbica, só faltava essa! Não mudei uma linha dos textos no entanto, mudarei apenas em livro, pra que sirvam aqui de sinalizadores da mudança que se fará notar.

Mas isso me leva tb a pensar no quanto prostitutas, e praticamente só elas, não são obrigadas a lidar, pelo menos lidar, com seus próprios preconceitos e limitações ali na prestação do serviço sexual. Me leva a pensar tb no que é e no que deixa de ser preconceito, e em como desconstruí-lo caso a pessoa se faça consciente dele. Esperar higiene, a mais burguesinha, asséptica, inodora, é elitismo? Ter que fazer oral numa neca com “cheiro de macho”, como já me disseram, ainda que usando guanto, quem aqui topa? Saio diversas vezes com o rosto empesteado daquele cheiro, às vezes tb do bafo de bocas mal lavadas, cigarro. No melhor dos casos, posso me vingar sujando cuecas de batom.

Vejo trabalhadores recém-saídos das fábricas, das construções, virem requisitar meus serviços por vinte, trinta reais, antes de voltar pra casa, pra família, eu sendo a recompensa pelo dia extenuante… o fato de me pagarem tão pouco me dá o direito de exigir higiene (“cobro pouco mas venha limpinho”) ou o valor irrisório é justamente oq determina a minha obrigação de aceitar oq vier? Mas, quisesse eu exigir higiene, onde se higienizariam, uma vez que eles vêm direto do serviço, uma vez que os atendo o mais das vezes no carro ou, até mesmo, atrás duma moita qqr?

Pêlos pelo corpo, peito cabeludo, posso não gostar, não sentir desejo por eles, por quem os porte? Houve um que me pediu pra eu chupar seu peito peludo, peito quase do tamanho do meu ainda que ele não fizesse uso de hormônios, homem não gordinho (esse diminutivo com funções de aumentativo, coisa tão típica da nossa hipocrisia gordofóbica) mas sim gordo… é preconceito eu perder o tesão nesse e só nesse ponto da transa, justo por conta da conjunção “chupar” + “peito” + “pêlos”? E, se for, faço oq? Chupei daquele jeito, como o meu nariz, e fui dando indícios de que aquilo me aborrecia, até ele largar mão e eu poder voltar de vez pra neca, onde me esbaldei. Depois do gozo, vi que ele ficou constrangido, como se se arrependesse doq me pediu.

Quem dentre vcs que me lêem se permitiria viver essa gama de transas, beijos, se permitiria sentir, tentar sentir, fingir pelo menos, tesão por esses corpos todos que abundam nos meus braços, corpos (assim como o meu, mas de forma diferente do meu) rejeitados pela norma, dissidentes, resistentes, preteridos, corpos brutos, gordos, negros, peludos, com deficiência, fora do padrão de beleza, de macheza, auto-estima lá embaixo, tímidos, oprimidos, travados, corpos que só se sentem à vontade conosco, que se entregam apenas em nossas camas, que precisam de nós pra não pirar nesse mundo de exclusão… por causa dos padrões algumas pessoas só sabem oq é sexo por causa das putas. Até que ponto a prostituição não existe também em função disso? Mas aguardem, q vai ter mudança de postura no blog: o ataque às normas vai se intensificar por aqui.

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