Laís: “A minha pergunta ela tem mais um cunho social. Uma das questões que vêm sendo levantadas em contraponto ao teu projeto de lei, que visa a regulamentação da prostituição, diz respeito à objetificação da mulher. Os movimentos feministas de todas as épocas e de diversas classes, desde Frida Kahlo a Valeska Popozuda, promovem o empoderamento feminino para que aja a efetiva igualdade entre homens e mulheres. Historicamente, e como fala tb na Bíblia, a prostituição é justamente o oposto a esse empoderamente feminino, e a prova disso é a divergência numérica entre mulheres prostitutas e homens prostitutos. E ainda mais contranstante é o consumo de prostituição por homens e com o consumo de prostituição por mulheres. O mercado é de fato um mercado que objetifica e é um mercado machista. Eu sei que nem por isso deve deixar de ser regulamentado. A minha pergunta é: o seu projeto não reafirma essa desigualdade de gênero e não dá mais empoderamento ao homem? Se não, por quê?”
Jean Wyllys: “Bom, Laís, eu não sei em que medida Valeska Popozuda se apresentar com um short micro e de bustiê, untada em óleo e dourada, e dizer ‘late, late, que eu tou passando’ e afirmar a gostosura dela e a superioridade dela diante do homem que ela trata como um cachorro, eu não vejo qual é a diferença e onde isso é mais empoderamento doq uma mulher que diz ‘eu quero dar e quero cobrar por isso’. Eu não entendo porque uma coisa é empoderamento e a outra é objetificação. Pra mim, a objetificação da mulher é dizer pra mulher oq ela deve fazer com o seu corpo, inclusive proibi-la de explorar esse corpo comercialmente. Ela é explorada de outras maneiras e isso não incomoda as feministas, mas quando se trata da relação da mulher com sua sexualidade elas se incomodam, porque na verdade elas estão fazendo eco a uma repressão sexual que não dá a mulher a liberdade sobre seu corpo, inclusive pra prestar serviço sexual com ele ou, como diz a Georgina, ‘fazer excelentes trabalhos com as mãos’ p.ex. E o meu projeto de lei, em medida nenhuma ele fortalece essa desigualdade de gênero porque uma coisa que as feministas, essas feministas, não todas, gostam de fazer é esconder sempre que elas falam sobre esse projeto, elas falam assim ‘o projeto do deputado Jean Wyllis’. E elas dizem isso porque elas não querem encarar o fato dq se elas reconhecem que o projeto não é meu e que o projeto é do movimento das prostitutas, se elas reconhecem que é um movimento que nasceu do movimento das prostitutas, elas põem em xeque a questão da representação, quem está legitimado a representar quem. E aí a gente reclama um tema cara pra esquerda, que é o tema do protagonismo: as prostitutas têm que ser porta-vozes de sua luta, e não mulheres criadas a ovomaltine e educadas nas melhores universidades e nos cursos de feministas. Eu até acho que devem dialogar. O movimento das prostitutas tem muito oq aprender com as feministas, que se formaram feministas na academia, tem muito oq aprender. O feminismo feito na academia colaborou bastante, inclusive com o movimento LGBT, mas tem que pensar em protagonismo. Eu, como homossexual, não gosto que pessoas falem em meu nome, e com toda a contradição do movimento LGBT eu prefiro que nós falemos em nome de nós mesmos. Então o protagonismo é algo fundamental. Como as mulheres não gostam que os homens falem no nome delas. Aliás, é tão curioso que essas mesmas feministas, se por um lado elas afirmam isso, elas têm um problema sério com a inserção das mulheres transgênero no movimento delas. Esse segmento tem um problema sério em incorporar a luta das mulheres transgênero como parte do movimento mais amplo feminista, então não por acaso as transexuais estão conosco, com nós LGBTs, e não necessariamente com o movimento feminista, só pra vcs terem uma ideia. Porque tem uma dificuldade de reconhecer a mulher transgênero como mulher e aí tem uma essencialização doq é ser mulher, e não entendido como a Simone de Beauvoir já dizia, ‘não se nasce, torna-se mulher’.”
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