E SE EU FOSSE PUTA: TRAVESTIS E PUTAS

Semanas atrás, antes mesmo de ter minha primeira experiência como acompanhantes em cuiabá (o puteiro de Campinas), comentei com uma amiga no meio duma bebedeira a respeito da minha vontade de experimentar essa vida. Amigona mesmo, mais de sete anos de convivência, com quem cheguei a morar junto e que sabe horrores de mim. A reação dela foi inesperada. “Não posso deixar vc fazer isso, você vai ser violentada lá”, ela dizia, “vai pegar aids como o meu amigo fulano”. Isso foi o suficiente para ela sumir da minha vida no dia seguinte, sem nem tchau. Eu poder ser violentada isso ela não conseguia aturar; correr o risco de me infectar com HIV tampouco: ter um amigo soropositivo ok, mas uma amiga que poderia vir a se contaminar, isso nunca. “Eu aceitei de boa vc virar travesti, mas isso eu não tenho como: vc tá no doutorado!” E lá se foram pro lixo 7 anos de amizade, somente por eu ter dito que pensei na ideia, sem nem garantir que a levaria a cabo. Hoje me chega uma mensagem inbox, doutra pessoa.

“SEUS ATOS IMBECIS ESTÃO DIZENDO PARA QUEM POUCO CONHECE, QUE REALMENTE UM TRAVESTI TEM MESMO QUE IR PRA PROSTITUIÇÃO!! Que ser travesti significa libertinagem, que não precisa ser respeitado!!!!!! (…) Todas as mulheres ainda tem dificuldade para serem respeitadas, travestis ou não é não precisam de pessoas que agem como vc. (…) Suas atitudes são de um homem bem machista representando o que ele pensa ser uma mulher”.

Para além do fato de ainda existir quem ache que estou brincando de ser mulher, fazendo isso por uma causa e não pq é assim q eu vou me encontrando comigo mesma, aos encontrões, me incomoda o teor doq foi dito (que transcrevi do jeito que me chegou). Mais de 90% das travestis estão na prostituição e, segundo a pessoa que me escreve, isso significa que elas não precisam ser respeitadas. Dentre as prostitutas, 100% delas são prostitutas: só as travestis chegam perto desse número expressivo, quase ameaçando transformar as duas palavras (travesti e prostituta) em sinônimos. Alguns preferem pensar dessa maneira, se negando a ver o quanto elas próprias são travestifóbicas e responsáveis por um quadro desses. Vou descobrindo tb que sou “um homem bem machista” por, ao querer ser mulher, ou melhor travesti, decidir ter uma experiência como prostituta. Afinal, faço doutorado, tenho bolsa de estudos, não preciso disso. E é incrível como não se vê o óbvio, pois justo esse deveria ser o caso de toda pessoa que se prostitui: fazer pq não precisa, fazer pq tem gosto pela coisa, fazer pq sabe fazer, pq pode escolher fazer e deixar de fazer assim que der na telha. “A pobreza e a miséria me ensinavam que a fome passava com macarrão instantâneo e dinheiro pra isso eu conseguia chupando um caminhoneiro sujo no posto de combustíveis na saída da cidade”, diz Chelsea Blair, travesti e prostituta babadeira em sua autobiografia “Transgênero em Número e Grau”. Confesso que me atrai a objetificação que a prostituição proporciona, me sentir um pedaço de carne a ponto de ser degustado com calma ou devorado com pressa. Não vejo aí degradação alguma, aliás. Oq me leva a essa experiência, que nem sei como se dará na prática, é algo do nível da fantasia erótica: quem nunca fantasiou ser puta? Mesmo o homão hétero mais viril já pensou na hipótese de ser, não puto, mas puta, mulher da vida, pra dar a rodo e foda-se oq vão pensar. Quem nunca?

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