“Orientação sexual variando entre incerta e instável (às vezes as duas ao mesmo tempo); incapaz de amar alguém (e, por conseguinte, conviver junto a este) ao longo de grandes espaços de tempo, acabei sendo obrigado a manter uma alta taxa de rotatividade de parceiros (acho que me daria bem com programas…).”
Diário aberto, viajo 10 anos no tempo. Uma pena eu ter escrito tão pouco… uma horinha e lá já se foram todas as páginas duma história que estava sepultadérrima na memória. Coisas, quase todas, que eu não me lembrava mais e que sinceramente não consigo nem entender como é que eu poderia esquecer caso as tivesse vivido mesmo! Tudo ali já se desenhava meio biografia, meio ficção? Mantive o tratamento no masculino, pq com 19 anos nada era muito óbvio na minha cabeça. Li os relatos picantes das minhas primeiras experiências de banheirão, a linguagem dos olhares que negocia oq vai rolar em seguida. Porque todos que frequentam banheiro público masculino sabem que um homem não olha nos olhos de outro homem, não conversa, não fala oi, não é simpático, a menos que esteja querendo coisa. Eu rapidinho entendi essa língua. Eu queria coisa. Banheiro vazio, só eu e mais ninguém. Vai entrando gente, aos poucos. Demoro lavando a mão, buscando discretamente um olhar que insinuasse querer responder ao meu olhar (todo o cuidado é pouco pra não se deparar com perigo, alguém violento que não está afim de jogar o jogo); aí perceber que o cara está demorando demais no mictório, quanto xixi!, que ele está meio que olhando de canto de olho, procurando o meu canto de olho… aí um dos dois toma iniciativa e olha pro outro, sempre pelo espelho… os dois se olham diretamente e eu que estava lavando ou enxugando a mão, há horas, ou mexendo no cabelo ou escovando os dentes, volto ao mictório ‘pra fazer xixi’, ao lado dele. Um olha oq o outro tem, toca, brinca rapidinho, se dirigem logo ao box, onde eu já me sento e vou logo abrindo o zíper. Não tem conversa. Não toque no meu genital, quero sentir só o seu: é isso q eu gosto, é isso oq me dá prazer. Goze sem avisar de preferência, q adoro engasgar. Tão excitante, quase nunca acontece. E nem me agradeça no fim. Só feche o zíper e tchau — deixa eu ficar lá curtindo o momento, o gosto esquisito na boca. Adorava sentir esse prazer insuportável, incontrolável, e ver meu pingulim molinho… meu prazer não estava ali, era todo na minha cabeça. E foi lendo meus diários e poemas que escrevi na época, que eu percebi que já souera desde sempre uma puta. Não das que cobram, pq isso eu ainda não consegui, não consegui que me dessem oq eu valia. Mas sim puta pq sempre fiz muito e fiz com muitos, sempre com gosto. Se transar adoidado, louca da periquita, é ser puta, então eu sempre fui puta. Agora preciso é começar a ganhar por isso, pq com 19 aninhos eu já acreditava que levava jeito.