E SE EU FOSSE PUTA: Abril 2015

Um ano da estreia oficial de Amara Moira chegando, o famoso primeiro de maio de 2014 (quinta feira feriado antes da Parada LGBT de São Paulo), momento em que fui pra capital só com roupas femininas na mala, compradas no crediário Marisa um dia antes, e comecei a pedir, quase pedindo desculpas, pras pessoas se possível faz favor caso não seja incômodo poderia talvez você me chamar de Amara? Boas almas, algumas, disseram que sim, pois não, e lá começou-se tudo, eu nem sabendo bem aonde queria chegar, nem sabendo se daria pra chegar aonde eu nem sabia se queria, só sei que uma hora a coisa engrenou, fulane e pra sicrane e daí pra beltrane, todo mundo do nada me chamando de Amara antes mesmo que eu dissesse oi. Oi?

Pois bem, um ano passado quase, chegando a hora de fazer balanço, é forçoso reconhecer a diferença que a “E Se Eu Fosse Puta” fez. Das dezenas de pessoas com quem transei nesse um ano, todas homens, todas programas, várias eu sentindo tesão (em especial as primeiras), outras eu violentada, delas todas nenhumazinha pessoa eu conheci longe dos domínios do Itatinga, meretrício das Campinas do Mato Grosso, o coração travesti da cidade. Triste pensar que se resumem a transas pagas aquelas que vivi nesse um ano, não poucas isso sim, mas ainda assim pagas, todas, coisa que me faz pensar. Triste porque nem ao certo sei se isso se deve a eu não estar seduzinte o suficiente, cativante, ou quem sabe a eu não estar me permitindo mesmo… ainda tenho pavor de me ver no espelho nua e não é do dia pra noite que isso vai mudar, que vou me jogar toda toda (talvez, inclusive, eu ainda precise de um bom número de pirocos me dizendo “linda” na cama e, muito possivelmente, até fazer o peito, pra achar que chegou a hora do algo a mais ou, pelo menos, do sexo não tributado).

Outra questão também me surge, o aprender a ligar o foda-se, coisa que veio das aulas práticas da Indianara a princípio e, depois, da Monique Prada (indicação pessoal da travesti babadeira ali antes). Retardei ao máximo a transição até sentir que eu já tinha condições de, através da autonomia financeira e da estima que por mim nutriam, peitar a sociedade e me fazer engolir. Meu pavor era ter de me prostituir pra sobreviver, depender disso, isso eu não dava conta, eu jamais acreditei que daria. Mas tendo já um nome, respeitada, independente financeiramente, foi muito mais fácil chegar de igual pra igual e ir dizendo “ei, favor agora me chamar de Amara e no feminino”: contando com a estima de quem estava ao meu redor, negociar os termos da transição ficou bastante mais tranquilo (é isso oq muita pessoa trans vem descobrindo, a importância de transicionar depois de ingressar na universidade, longe de certos olhos, mas contando com a estima deles). O plano inicial era antes virar professora universitária concursada, passar o período probatório e então cabum! travesti, mas não houve como… bastou a primeira insinuação de bonança e me joguei de cabeça.

O engraçado foi justamente eu, que tinha horror à ideia de me prostituir, eu, que retardei minha transição ao máximo pra tentar me livrar desse caminho, mal me assumi e já fui quase de cara fazer a rua. E não só, pois, além de ir fazer programa, ainda me meti a relatar tintim por tintim tudo no meu blog, olha só, dois níveis distintos de foda-se. Razões? Oras. Carência brutal a princípio, fogo no fiofó, aí desejo de ser aceita e não mais turista, tesão por escrever vindo junto (e, gente, eu sou péssima com imaginação, meu negócio é memória!), tb um pouco me vingar de piroco lixo e, por fim, peitar o medo do e se eu fosse, do e se fosse eu, militância. Dois níveis de foda-se, porque na verdade nem precisa porquê, tudo desculpa. Puta, e se eu fosse, e se fosse eu, a puta, a travesti, a escritora?

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